Nesta sexta-feira, 07 de abril, foi realizado o lançamento do EP "Vão", produção musical de Castel e autoria completa da artista Beli Bertalha.

O EP conta com 5 faixas autorais bem trabalhadas com estilos MPB e POP. As músicas utilizam da produção eletrônica e foram lançadas através da agregadora ONErpm, mundialmente conhecida, e já estão disponíveis em todas as plataformas digitais. 

Beli Bertalha é artista da música com referências populares e memórias sonoras diversas de onde veio e por onde percorreu, mantendo a curiosidade pelas histórias como fundamento para as criações. Tem experimentado a composição de narrativas por meio de trilhas sonoras, como também a música eletrônica e o pop. 

Com a libélula em verso, duo em parceria de Juliana Gatto, lançaram O Canto da Cigarra (2017) e o álbum visual Das Solidões (2022) com mais de 70 shows acumulados durante sua trajetória de produção independente.

Em 2022 lançou 'Gloriosa', música original do projeto 'Flores do Deserto' de Renan Angeli;  participou do feat 'É Com Você', que abre o disco O Dito e o Não Dito da Castel, e por último, lançou a música instrumental 'O Banco e a Palmeira', música original para o filme 'Pãn Vanh: Rastros' de Ítalo Mongconann. 

Neste ano de 2023  lança seu primeiro EP, "Vão". Com dois anos de elaboração, o EP traz cinco músicas que cutucam com o dedo de dentro a ferida do 'cidadão de bem', e tem produção musical da Castel. As músicas com base totalmente eletrônica, acompanham as tendências de artistas contemporâneos em um tom minimalista na MPB. As músicas valorizam as diversas vozes em sobreposições, entre reflexões e um convite para dançar. O projeto conta ainda com a realização de um curtametragem - em fase de produção, fazendo a ponte entre as duas paixões da artista, a música e o cinema.

A Beli aceitou conversar conosco do Jaú Notícias e falou um pouco sobre suas expectativas e experiências:

Qual sua expectativa com o Lançamento do EP Vão? 

"A expectativa para o lançamento do EP Vão é de que ele se expanda, chegue em pessoas que eu nunca imaginei, que fure bolhas. Como é o primeiro EP solo de minha carreira, acredito que será um dia de cada vez para alcançar esse espaço, visto que há tanta música boa surgindo a todo momento. Acredito que é a frequência de meu trabalho e a relação com o público que pode criar um vínculo de partilha e de confiança para dar seguimento em meus projetos artísticos."

O que te inspirou a produzir o EP Vão? 

"O EP Vão foi fruto da reação diante de perdas de pessoas, valores e relações. Segundo alguns estudiosos da psicologia, toda perda gera um luto que passa por algumas fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Acredito que a raiva foi um dos sentimentos que mais me impulsionou a pensar no EP enquanto possibilidade de transformação de valores, e optei por escolher composições que tinha guardadas, as quais exprimiam as hipocrisias do “cidadão de bem” observadas por alguém como eu, LGBT de um lar e uma cidade tradicionais. Os valores tradicionais da heterossexualidade compulsória, da branquitude, normatividade e da higienização social geram revolta, mas nem sempre escapamos de reproduzi-los, sabendo do fator estrutural que perpassa a sociedade. Esse é o outro ponto das canções, uma atenção para os “erros” que reproduzi, as violências das quais não me orgulho, porém não posso ignorá-las, tendo o EP como uma espécie de denúncia e reparação social, por meio de histórias que aconteceram comigo."

Qual foi sua experiência ao trabalhar com uma produção eletrônica? 

"Trabalhar com uma produção eletrônica foi totalmente novo para mim. Desde pequena eu gostava de tecnologia, me agradavam músicas com toque eletrônico, no entanto, na minha trajetória musical, marcada principalmente pela Libélula em Verso eu não havia tido essa experiência. Foi com esse EP que decidi adentrar no território eletrônico, por desejar focar na composição, explorar a voz como meu principal instrumento, e a possibilidade de buscar timbres que não existem organicamente. O encontro com a Castel, formado por Denusa Castellain e Luís Fernando Diogo foi primordial para a materialização desses desejos, os quais mantiveram a estrutura das composições que criei no violão e acrescentaram novas intenções e sensações por meio de samples e beats. Com o Henrique Gela na mix e master isso tudo foi colocado cuidadosamente em seus devidos lugares. O resultado, ao meu ver, foi uma música dançante, reflexiva e gostosa de se ouvir. "

Fale um pouco sobre sua vivência como músico independente no Brasil.

"O caminho da música independente no Brasil é árduo, não é novidade para ninguém. Eu faço música autoral porque não sei fazer outra, porque acredito que é o melhor que posso oferecer de mim enquanto ser humano que transforma sua força de trabalho. Para isso,  preciso exercer outras atividades paralelas e investir com o dinheiro que recebo delas na produção independente e ter a esperança de que pouco a pouco o reconhecimento financeiro acompanhe o reconhecimento artístico."

"É possível observar que as pessoas se encantam pelas músicas, que muitas me acompanham desde quando comecei a trabalhar com música, e isso é o que me motiva a continuar. Sei que alguém está me ouvindo e espero que, sentindo algo com as músicas. Sei que quando canto e toco, a conexão é real. Não me importam muito os números agora, pois já criei muitas expectativas em torno de ações de marketing que não deram certo. Para sobreviver à necessidade de pagar as contas, alimentar a saúde mental e continuar trabalhando, é preciso se agarrar às conexões reais e as tentativas que funcionaram, num jogo cuidadoso de erros e acertos. Assim, devagar, dia a dia, compor, cantar, tocar e compartilhar, seguir o fluxo conforme pode e lutar por políticas públicas que garantam a inserção de artistas diversos e promovam cultura e arte locais com o mesmo incentivo que dão à artistas com visibilidade nacional e internacional."

O EP Vão, por Beli Bertalha, já está disponível para os fãs e público em geral nas plataformas digitais (Spotify, Deezer, Apple Music, iTunes, YouTube, entre outras)